quinta-feira, 4 de junho de 2015

A Melancolia no livro "Em Chamas"



 

O livro "Em Chamas", da autora Raquel Rodrigues, é escrito em poesias, dividido em três partes: Parte I (Sonhos), Parte II (Spleen) e Parte III (O Despertar). Na primeira parte da obra, é possível ler poemas carregados de impressões sensoriais, como tato e audição. Um dos versos em que isso acontece é "Eu só quero ouvir a sua voz"(Inquietante). Através dessas impressões, a autora coloca seus sentimentos e suas ações no poema.
É importante salientar a presença de figuras de linguagem nesses poemas. Uma dessas figuras é a antítese (exposição de ideias opostas). Isso ocorre no poema "Inquietante", no verso "Pisando em cacos de vidro sem se machucar", ou seja, há uma contradição em "pisar em vidro" e não se machucar.
Em vários poemas, a autora retrata a efemeridade da vida, ou seja, mostra que a morte é iminente, como em "Eu só quero que saiba/ Que não vou durar muito" (Inquietante) e "É melhor andar rápido por que a morte esta esperando...(Veneno). Nesses versos, a escritora mostra que a vida passa rápido, por isso é fundamental que se aproveite a vida, que as ações ocorram, pois tudo vai terminar.
Os versos do livro "Em Chamas" têm um tom pessimista e melancólico. Seus poemas são carregados de dor, de tristeza, de abandono. Isso pode ser observado na escolha de vocabulário da autora, como em "Veneno":
"Eu preciso de uma dose para amenizar a dor
Dor que eu mesma deixei acumular dentro de minha própria enfermidade
Eu preciso de algo para amenizar a dor."
Esse negativismo de seus versos tem uma semelhança com os poemas da Segunda Geração do Romantismo no Brasil, devido ao sofrimento existencial. Em "Abandonada", há uma "atmosfera de mágoa e rancor":
"Há um coração dilacerado no meio da estrada
Eles nem notaram a sua ausência
E tem sido o berço de inúmeros rancores
E como ela tenta se livrar deles."
Na segunda parte da obra, Spleen, a autora continua retratando a melancolia e a dor. A palavra "Spleen" é um termo em inglês muito utilizado na literatura romântica , que significa o tédio, a insatisfação com a realidade, o desencanto com a vida. Além disso, começa a se questionar, começa a observar os sentimentos dentro dela. Em "Me avise quando a aula acabar", a autora diz:
"Como pode existir tanta dor dentro de mim?
Deve haver algo muito errado comigo."
Também retrata as suas lembranças, aquilo que está em seu íntimo e que influencia nos seus sentimentos e sensações, como ocorre em "Delírio":
"Eu me lembro de que fazia frio
E os corredores ficavam menores."
A efemeridade da vida e a presença constante da morte continuam nessa parte da obra, mostrando que a vida passa e que é uma alternativa para se livrar da angústia, da dor e do desconforto. Essa passagem do tempo acontece, por exemplo, em "Querido Diário": "Preciso morrer para não beber da mesma dor/ nem abusar dos mesmos vícios".
Na terceira parte, O Despertar, a autora mostra em seus versos a dor como libertação. Através da dor é possível ter esperança de dias melhores. Isso acontece em vários poemas, entre eles "Aberta":
"Podemos usar a dor para nos libertamos
Não tenho ódio,
Estou cheia de esperança
Depois de todo o sofrimento
Levando-me a decadência
Talvez algum dia eu agradeça."
Enfim, o livro "Em Chamas" tem versos com "carregados" de pessimismo, insatisfação, melancolia. A fuga da realidade é mostrada através do escapismo, da morte, do tratamento da vida como uma grande ilusão.
 
 

 
Jennifer Alles Sinhorelli
Professora de Língua Portuguesa, Redação e Literatura

 
 


 
 
 


Nenhum comentário:

Postar um comentário